Comportamento: O que esperamos das crianças?
Desejo ou espero que você se comporte assim?
Os pais e educadores sempre criam expectativas sobre o comportamento dos seus filhos. Quando pedimos alguma coisa para as nossas crianças queremos que elas correspondam imediatamente, exatamente como desejamos. O que não lembramos é que ninguém nasce sabendo como agir e como se comportar. Muitas vezes eles agem de maneira inadequada apenas por não saberem como fazer diferente. Aí entra o nosso papel de pais e educadores.
Comportamentos Esperados vs Desejados
Existem os comportamentos esperados e os desejados. Qual é a diferença? Os desejados são aqueles que queremos que os nossos filhos façam sem a nossa intervenção, sozinhos, sem terem que ser mandados. Caso eles não correspondam à essa nossa expectativa, gera-se uma grande frustração em nós, que consequentemente gera uma enorme irritação, que gera um mal estar, que gera por fim uma situação caótica em casa.
Já os comportamentos que podemos esperar, são aqueles que podem ser ensinados e que assim podem ser praticados com sucesso e autonomia pela criança. Esse comportamento por sua vez, gera uma satisfação e felicidade dos pais.
Na prática, a situação é a seguinte: De repente se escuta a distância um grito de fúria, “Não coloque o copo de vidro em cima do sofá, não é possível, não vê que vai cair…” Você já parou para se perguntar como seu filho pode saber que alí não é lugar para colocar o copo se você nunca falou ou explicou? Ou se escuta com indignação, “Como você fica muda quando te elogiam ou te cumprimentam? Parece que não te dei educação…” É, realmente você pode não ter dado. Você já explicou como se agradece a um elogio ou já ensinou maneiras (existem várias) de sermos simpáticos quando alguém nos cumprimenta?
Te convido a pensar nisso…
De acordo com as orientações de Friedberg e McClure (2004) em seu livro A prática clínica de terapia cognitiva com crianças e adolescentes, seguem algumas dicas de como podemos agir para que nossos filhos tenham os comportamentos esperados e não os desejados por nós.
- Reforçar o bom comportamento com elogios, abraços ou uma brincadeira. Isso demonstra que estão prestando atenção ao que ele faz, que a valorizam e a respeitam.
- Dar atenção aos filhos com sorrisos, abraços, elogios verbais, comentando uma fala do filho, olhando para ele enquanto conversa, prestando atenção a uma tarefa que ele está realizando. Mostre interesse sincero pelo que ele relatar (deixe o celular bem longe do seu alcance, a atenção é exclusivamente para ele nesse momento).
- Valorizar seus esforços! Não caçoar dos seus enganos e nem desanimar (muito menos desanimá-lo) por ainda não conseguirem muito.
- Estabelecer uma rotina para os comportamentos que devem ser repetidos diariamente com independência, como tomar banho, comer ou estudar. Facilita se forem repetidos sempre no mesmo local e horário, pois eles serão capazes de repetir sozinhos. Por exemplo, estabelecer um local e um horário diário de estudos para os filhos.
- Reservar um tempo diário para brincar com a criança, de preferência uma atividade de sua escolha e dirigida por ela mesma, pelo menos por dez minutos. Nesse momento, os pais devem valorizar os comportamentos adequados dos filhos e ignorar os negativos que não sejam perigosos. As crianças e adolescentes (como qualquer pessoa) precisam de um tempo em que possam decidir o que fazer e como fazer, sem serem o tempo todo guiados por regras, normas ou limitações.
- Não fazer discursos sobre comportamentos. Muitas vezes, os pais passam mais tempo falando o que os filhos não deveriam fazer e dando lição de moral do que conversando a respeito de boas atitudes e ouvindo o que eles pensam sobre diferentes assuntos, de maneira a orientá-los adequadamente.
- Dar comandos específicos, por exemplo: coloque os brinquedos na estante; em vez de: por que você não guarda os brinquedos? Dizer o que deve ser feito ou como deve ser feito de maneira clara. Mostrar o caminho.
- Permitir escolhas, como forma de valorizar os comportamentos. Por exemplo: já que você completou as tarefas da escola, pode escolher um brinquedo para brincar, ou uma história para eu contar. Lembrem-se, não é uma troca (faça que eu dou…), é uma valorização pelo seu desempenho e por ter cumprido sua responsabilidade.
Muitos pais, pensando em não se incomodar em ensinar, acabam se incomodando muito. Esquecemos que as crianças estão aprendendo e o que é óbvio para nós não necessariamente é para elas, muito pelo contrário. Ensinando e modelando os comportamentos adequados, estamos contribuindo para que elas desenvolvam auto-estima e autonomia ao fazerem as suas próprias escolhas.